terça-feira, 15 de novembro de 2011

Resenha Crítica - Liderança nas organizações educativas: a direção por valores.


Resenha Crítica do texto:

TRIGO, João Ribeiro; COSTA, Jorge Adelino, Liderança nas organizações educativas: a direção por valores. Ensaio: Aval. Pol. Públ. Educ., v 16, n.61, p561-582, Rio de Janeiro, 2008.


Este artigo destina-se aos dirigentes, gestores e profissionais da área da educação, interessados em administrar escolas de forma mais eficaz e participativa, aprimorando a ferramenta da liderança nas organizações educativas.
Os autores procuram aprofundar o debate sobre o papel central da liderança, no âmbito escolar já que esse tema já foi estudado nas últimas décadas nas organizações em geral. A ideia dos pesquisadores é o de traçar um paralelo sobre as mais recentes contribuições descritas em artigos que tratam sobre o papel da liderança em diferentes áreas do conhecimento, também  no âmbito escolar, a fim de contribuir para a consolidação de uma organização educativa mais eficaz e menos burocrática.
Os dirigentes, gestores e profissionais da área da educação, favorecem a vinculação de toda a comunidade escolar  ao compartilhar a prática da liderança com muitos dos funcionários, alunos e representantes da própria sociedade. Desta forma tomam decisões baseadas em valores grupais, como sugere o Modelo da Direção por valores (DpV) proposto por Dolan Garcia em 1997, fortalecendo não só a autoridade escolar, por conseguir resgatar um valor moral óbvio, mas também por provocar, diferenças positivas na vida de todos que ali convivem.
Neste trabalho os autores destacam que há um papel crescente da importância da liderança que já foi testada e aprovada no mundo empresarial e que podem ser incorporadas pelas organizações educacionais guardando as especificidades da sua organização, pelo fato de também serem consideradas, um objeto de estudo sociológico. Destacam que um chefe num ambiente escolar deve ser bem mais do que o de ter controle burocrático da instituição e para haver a revalorização da escola é necessário proporcionar uma maior estabilidade ao corpo docente através da formação de um projeto de liderança forte que inclua a participação da comunidade escolar. A liderança é considerada por muitos autores como sendo um elemento central por ser capaz incorporar a gestão, autoridade e o poder numa organização educativa.
Na liderança convencional, os chefes trabalham com a administração de hierarquias recursos e números; já a liderança pós convencional, considerada por muitos como a verdadeira liderança, trabalha para liberar as energias criativas valorizando os espaços de diálogos e a construção de valores partilhados (DpV) dos seus colaboradores, contribuindo para construir desta forma uma sociedade mais solidária.
O papel emocional do líder numa organização é fundamental, por que cabe a ele além da importante função visionária do trabalho, a sintonia com os sentimentos das pessoas que o cercam, a fim de cuidar para que as relações sejam pautadas por lealdade e ética para que as pessoas possam dar o melhor de si próprias. Quando todos participam da elaboração de um trabalho, conhecem seus valores e os da sua equipe, o trabalho flui melhor, a organização tem maiores chances de prosperar e atingir níveis superiores de desempenho alcançando o que Rego e Cunha (2004, p. 239) chamam de liderança transformacional atualmente muito defendida nas empresas.
Sergiovanni (2004a; 2004b) considera a escola como uma organização especial em contrapartida a organizações empresariais, pois enfatiza que pais,  professores, membros dos órgãos administrativos e alunos tem mais capacidade de tomar decisões baseadas em valores comuns do que em decisões individuais,  o que chamou de “liderança moral”.
A liderança moral, defendida por Sergiovanni, tem como objetivo realizar duas tarefas no ambiente escolar: Primeiramente de agir com o intuito de provocar diferenças positivas na vida dos funcionários clientes e sociedade e em seguida de se preocupar com a relação das pessoas, que como já dissemos deve ser pautado na ética e na lealdade, levando a contagiar outros grupos a mudarem voluntariamente as suas preferências em função de projetos comuns.
Na escola, a abordagem crítica, permite fazer a ruptura teórica e metodológica dos problemas da organização escolar. Ela passa a ser vista como um espaço de construções sociais onde os indivíduos dialogam sobre as questões de valores e da ética na liderança promovendo a chamada liderança estratégica em que a comunidade como um todo discute problemas fundamentais tais como: o projeto pedagógico da escola e as demais lideranças citadas anteriormente.
Fátima Chorão Sanches (2000 p. 55) defende a chamada liderança colegial que centraliza e promove a colaboração e o diálogo entre as pessoas introduzindo também a necessidade de que sejam ético e permeado por valores comuns.
Ao analisar a mudança escolar Estevão (2002), constatou que as organizações tendem a ter estruturas mais flexíveis democráticas e com características mais comuns e mais globalizadas, onde as relações de liderança poderes e valores se interpõem umas sobre a outra, construindo valores que são partilhados pelas pessoas.
De acordo com Vicente (2004) a liderança nos negócios e na educação tem cada vez mais pontos em comum, pois atualmente o mundo empresarial também começa a ter consciência do quão é perigoso para o sucesso de uma empresa não ter um objetivo moral e com isso desenvolve-se um diálogo maior entre esses dois mundos antes tão distintos um do outro.
Em seguida os autores adaptaram o texto de Garcia e Dolan (1997 p. 30-31)  e comparam três tipos possíveis de direção em empresas organizacionais mostradas no quadro 1 abaixo indicando as diferenças entre a direção por instruções (DpI); Direção por Objetivos ( DpO) e a Direção por Valores (DpV) em relação as  seguintes frentes: onde  é mais apropriada sua aplicação; o nível médio de profissionalização dos membros da organização; o grau de autonomia e de responsabilidade dos funcionários; o tipo de destinatário e de produto; a tolerância a ambigüidade; Estabilidade do contexto; Organização social; Tipo de liderança e de estrutura organizativa; filosofia de controle e propósito da organização; alcance da visão estratégica e valores culturais essenciais.

DIFERENÇAS ENTRE DIREÇÃO POR INSTRUÇÕES,
DIREÇÃO POR OBJETIVOS E DIREÇÃO POR VALORES

DpI
DpO
DpV

Situação de
aplicação
preferencial

Rotina ou
emergências

Complexidade
moderada.
Produção relativamente
estandardizada.

Necessidade de
criatividade para a
resolução de
problemas complexos
Nível médio de
profissionalização
dos membros da
organização
Baixa escolaridade
(direcção de
operários)
Profissionalização
média (direcção de
empregados)
Alto nível de
profissionalização
média (direcção de
profissionais)
Autonomia e
responsabilidade
Baixa
Média
Alta
Tipo de destinatário
Utente – comprador
Utente – cliente
Cliente com critério e liberdade de escolha
Tipo de oferta de
produtos
Monopolista.
Estandardizada
Segmentada
Altamente
diversificada e mutável
Tolerância à
ambiguidade
Baixa
Média
Alta
Estabilidade do
contexto
Contexto estável
Contexto
moderadamente mutável
Contexto muito mutável
Organização social
Capitalista - industrial
Capitalista - pós industrial

Pós capitalista

Tipo de liderança
Dirigista tradicional
Administrador de
recursos
Legitimador de
transformações
Tipo de estrutura
organizativa
Piramidal com
múltiplos níveis
Piramidal com poucos
níveis
Redes, alianças
funcionais, estruturas
de equipas de projecto
Filosofia de controlo
Controlo por
supervisão descendente
Controlo por estímulo do
rendimento profissional
Potenciação do autocontrolo
das pessoas
Propósito da
organização
Manter a produção
Otimizar resultados
Melhoria constante
dos processos
Alcance da visão
estratégica
Curto prazo
Médio prazo
Longo prazo
Valores culturais
essenciais
Produção quantitativa,
fidelidade,
conformidade,
cumprimento,
disciplina
Racionalização,
motivação, eficiência, medição de resultados
Desenvolvimento,
p a r t i c i p a ç ã o ,
aprendizagem contínua,
criatividade, confiança
mútua, compromisso

Analisando o quadro acima podemos perceber que a Direção por Valores é uma proposta aparentemente apropriada para se debater os valores das pessoas e para responder melhor os desafios do mundo atual tais como a globalização, o conhecimento científico e tecnológico. Esse tipo de direção é considerado um marco global para redesenhar continuamente a cultura de uma empresa e ter finalidade tripla de simplificar, orientar e comprometer os funcionários de uma empresa.
No âmbito específico da educação, a Direção por Valores é uma proposta para se aplicar em organizações escolares já que apesar de ser construída em longo prazo, propiciar melhoria constante dos processos é a que mais parece colaborar com a formação democrática da nossa sociedade.

                                                                        Aluna: Lucia Velloso Verginelli
                                                                         Professora: Miriam Pascoal


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